Monday, 9 July 2018

Lydia Lunch Performance, Galeria Municipal, Porto, 07.07.2018.

Lydia Lunch © Guilherme Lucas 


words: Guilherme Lucas (freely translated by Raquel Pinheiro); photos Guilherme Lucas
Lydia Lunch is one of the most important personalities of New York's no-wave and post-punk music scene of the 1980s. She’s a pioneer and survivor of a passionate, literary genre, without aesthetic or ideological barriers, the best underground music has given us over the last few decades. She is part of a generation of geniuses and influential personalities when it comes to music, writing and performance, and for that very reason she is living history, or a legend, of popular underground music, depending on how you want to catalog her.

The artist presented herself to the public last Saturday at Galeria Municipal in Porto with her enthralling spoken word work named Dust and Shadows, following the exhibition  O ontem morreu hoje, o hoje morre amanhã  (Yesterday died today, today dies tomorrow) - an exhibitions of emerging local artists with works related to their nightlife experiences, using posters and images for electronic music events, DJ sets and others -, where the biggest name, and possibly the catalyst of this exhibition, is Raymond Pettibon​ the great American artist author of all the graphic aesthetics of the mighty Black Flag, one of the most important and seminal punk-hardcore world’s bands. In short, the black and white aesthetics of grotesque and crude proportions, often minimal and naively "poorly drawn" is what unites all these artists. I strongly a recommend to the exhibition.

Lydia Lunch hypnotically led us to a mind-boggling performance of the word, transformed into a psychedelic device of rambling the urgent and depressing thoughts that plague the mind of the artist and which that is simply astonishing, and leaves no one indifferent. Because what confronts us over 45 minutes is simply a person’s Life in every possible and conceivable way.

Initially focusing on freedom in its more politicized understanding of how the state and corporations control us all, from the mere use of a Visa card to TV or the Internet, it immediately moves into a closed attack on the US and its  varied idiosyncrasies that are fulminantly bare naked, resorting to her personal concept of chaos and its liberating power, taking us to her obscure world of ghost-emotions that torment our memories, warning us in advance, that, one day we will also become one of them. There is an ecstatic dark humor, a violent convulsion in everything the artist approaches, as if there was no salvation. She claims to be a survivor, of all kinds of lives and drugs, real and imaginary. But it is precisely in this apparent negativity that lies all the love for Life, For Mother Nature, and people by Lydia Lunch. When she reveals to us, in an aggressive and defiant manner, that the true and only rebellion is pleasure, it is more than obvious that we are facing someone with huge substance; a rare mind with important things to be listened to. At the end of her show, she writes, in the form of a poignant eulogy, chilling and distressing, about what can be said to someone who only has 30 days of live an ends up only having 30 hours to live and that quickly changes to only 3 hours and only 3 more minute, poisoned with medication, trying to fight for life, trying at all costs to save the hope for a life that is ending ... and there are only three seconds left to live and the only thing that can be done is to hold hands with the dying person say that they will quickly become a king and that, in a vortex of light, will enter another dimension, turned into subatomic particles in the ether, in ashes ... this is a moment one can never forget, because it a very strong thing, an intensely evident visualization of how the artist publicly exposes herself abour end of life. This moment of the show is very shocking, made with a feeling that hundreds of noisy rock bands of and others will never be able to cross to an audience. The word, when well used, is very powerful ... overwhelming.

What I essentially retained from the artist (who has visited us several times in the past) latest performance is that ostensibly, Lydia Lunch is a kind of up-to-date and very peculiar upgrade of the great blues and jazz singers of the past, a diva of debauchery and chaos, pleasure and lust; owner of a powerful voice with a great timbre reach, that proclaims freedom in a way that is neither obvious nor common sense. That is what makes her unique: one among billions. In addition, she is also someone with active political consciousness; always finding a way of relating eminently literary themes and emotive subjects with a hard and crude social reality, attacking in an vitriolic way what in her view of reality has to be destroyed.

Therefore, I believe, that watching one of her performances is always an unforgettable life experience, one of those that will last forever in our memories. At least that's what happened to me.

Lydia Lunch © Guilherme Lucas 

Lydia Lunch © Guilherme Lucas 

Texto e fotos: Guilherme Lucas

Lydia Lunch Performance- Lydia Lunch é uma das mais importantes personalidades do meio musical da no-wave e do post-punk de Nova York dos anos 80. É uma pioneira e uma sobrevivente de um género apaixonante, literário, sem barreiras estéticas e ideológicas, do melhor que a música underground nos deu ao longo destas últimas décadas. Faz parte de uma geração de génios e de personalidades influentes, tanto a nível musical, de escrita e de performance, e por isso mesmo é história viva, ou lenda-viva, da música popular de pendor underground, conforme se a quiser catalogar.
A artista apresentou-se ao público, no passado sábado, na Galeria Municipal do Porto, com o seu apaixonante trabalho de tipologia spoken word de nome Dust and Shadows, no seguimento da exposição “O ontem morreu hoje, o hoje morre amanhã” (uma mostra de artistas locais emergentes com trabalhos orientados dentro da temática das suas experiências de vida noturna – através de cartazes e imagens para eventos de música eletrónica, DJ sets e outros), e onde o nome maior - e eventualmente o catalisador desta exposição - é o enorme artista norte-americano Raymond Pettibon, o autor de toda a estética gráfica dos grandiosos Black Flag, uma das mais importantes e seminais bandas do punk-hardcore global. De forma muito resumida, a estética do preto e branco de proporções grotescas e cruas, em muitos casos minimal e “mal desenhada” de forma naíf, é o que une todos estes artistas. Uma exposição que recomendo vivamente para ser visitada.

Lydia Lunch conduziu-nos de forma hipnótica para uma alucinante performance da palavra, transformada em qual artefacto psicadélico de divagação dos pensamentos urgentes e depressivos que assolam a mente da artista e que é simplesmente assombrosa, e não deixa ninguém indiferente. Porque o que esta nos confronta ao longo de 45 minutos é simplesmente a Vida em todas as vertentes possíveis e imagináveis do indivíduo.

Inicialmente focando-se sobre a liberdade no seu entendimento mais politizado, de como o Estado e as corporações nos controlam a todos, desde o mero uso de um cartão Visa até à tv e internet, de imediato passa para um ataque cerrado aos EUA nas suas mais variadas idiossincrasias que são, de forma fulminante, postas a cru, recorrendo para o seu conceito pessoal de caos e do seu poder libertador, levando-nos ao seu mundo obscuro dos fantasmas-emoções que nos atormentam as memórias, avisando-nos de antemão, de que um dia mais tarde, seremos também um deles. Há um extasiante humor negro, em violenta convulsão, em tudo o que a artista aborda, como se não houvesse salvação. Ela afirma-se uma sobrevivente, de todos os tipos de vidas e de drogas, reais e imaginárias. Mas é precisamente nesta aparente negatividade que reside todo o amor pela Vida, pela Mãe-Natureza, e pelo Indivíduo por parte de Lydia Lunch. Quando nos revela, de forma agressiva e desafiadora, que a verdadeira e única rebelião é o prazer, é mais do que óbvio que estamos perante alguém com imensa substância; uma mente rara com coisas importantes para ser escutada. No final do seu espetáculo, disserta, em forma pungente de elogio fúnebre, arrepiante e angustiante, sobre o que se pode dizer a alguém que só tem 30 dias de vida e que passa só a ter 30 horas de vida e que passa rapidamente a ter 3 horas e só mais 3 minutos, envenenado com medicação, a tentar lutar pela vida, a tentar a todo o custo salvar a esperança para uma vida que se apaga… e só restam mais 3 segundos de vida e a única coisa que se pode fazer é dar as mãos a quem morre e dizer que rapidamente passarás a ser um rei e num vórtex de luz entras numa outra dimensão, feito em partículas subatómicas no éter, em cinzas… este é um momento que jamais se esquece, porque é algo muito forte, de visualização intensamente evidente da forma como a artista se expôe publicamente nesta temática do fim da Vida. Este momento do espetáculo é muito impactante, feito num sentimento que jamais centenas de bandas barulhentas de rock e afins alguma vez conseguirão fazer passar para uma audiência. A palavra, quando bem usada, é muito poderosa… avassaladora.

O que retive essencialmente desta mais recente performance da artista (que já nos visitou por diversas vezes no passado), é que de forma ostensiva, Lydia Lunch é uma espécie de upgrade atualizado e muito peculiar das grandes cantoras de blues e do jazz do passado, uma diva da devassidão e do caos, do prazer e da luxúria; senhora de uma voz poderosa e de grande alcance tímbrico, que apregoa a liberdade de uma forma que não é óbvia nem do senso-comum. É nisso que é uma fora de série; uma entre biliões. Para além disso, é também alguém com consciência política ativa; encontra sempre uma forma de relacionar temas eminentemente literários e emotivos com uma realidade social dura e crua, atacando de forma ácida o que tiver de ser destruído na sua conceção do real.

Por isso, estou em crer, que assistir a uma sua performance, é sempre uma experiência de vida inesquecível, daquelas que perdurarão eternamente nas nossas memórias. Pelo menos foi isso que aconteceu comigo.

Raymond Pettibon, O ontem morreu hoje, o hoje morre amanhã exhibition © Guilherme Lucas 

Raymond Pettibon, O ontem morreu hoje, o hoje morre amanhã exhibition © Guilherme Lucas 



No comments:

Post a Comment