Thursday, 10 January 2019

Holy Motors + Balter Youth, Hard Club, Porto, 09.01.2019 – Part 2 - Holy Motors




words: Guilherme Lucas (freely translated by Raquel Pinheiro); photos Guilherme Lucas

Holy Motors (name taken from French director Leos Carax s  enigmatic and bewildering  2012 film) played their first ever Portuguese concert in Hard Club’s Sala 2 and today they facet their second, and last Portuguese gig in Lisboa.

The Estonians, from Tallinn have been touring Europe for the first time to present their debut album, Slow Sundown, that was releases almost a year ago in February 2018. It is a beautiful album with eight superb songs that deserve a careful and long listening.
Holy Motors are a band that offers us pure magic in all its wonder, through deeply cinematic and seductive musical and thematic discourse. They’re a slow speed group, like a hypnotic, misty dream, in which we wander aimlessly, as we’re fleeing terrified of something that haunts us with sinister intentions. All their music is punctuated with sublime details that compete passionately for the exaltation of our innermost emotions, managing to move and transport us to the deepest melancholy and absolutely dark beauty. They are, in their very own way, psychedelic in the cryptic suspense that their sonic textures convey to us.

The quintet is musically inserted into shoegaze, with residual post-punk derivations (although in a remarkably indie-pop posture, very much through a quite identifiable formula with some of the biggest names that have signed the best music of the last few decades. Holy Motors’ guitar sounds have the seminal ghosts of the genial Rowland S. Howard (though in a more contained and much less inflammatory way) or the brilliant James Wilsey in what refers to the more surf and dream pop landscapes of their songs. One can also see that revisited musical aesthetic, by the a la Morricone or David Lynch ambient in the darker and denser ambiences of their music. One side more Tarantino, in its more country-western fashion and obscure "flamenco", and an entire lineage that, among others, goes from My Bloody Valentine to Cocteau Twins or Slowdive that fit the same purposes. Finally, there is always the omnipresence of Mazzy Star, Hope Sandoval or even Cowboy Junkies in Elian Tulve, Holy Motors’ lead singer mournful singing style of the purest and sweetest abandon.  

Not being an original band in their musical and aesthetic purposes, Holy Motors aren’t less interesting because of it. Their field of action is completely imbued with mystery and dream, and, therefore, very intense. Revisiting what others - a few - have done in a pioneering way, reinventing and revitalizing an entire discourse that is send back to us in a sure and quite convincing way. We liked Holy Motors because we like the main sources where they drank from to compose their songs.
Personally, there was a greater momentum in their all performance: when they played the fabulous Sleeprydr in their breathtaking final solo. It was worthy the whole concert   because it brilliantly summarizes all the above-mentioned influences and on its own defines what is, in large part, shoegaze. Unforgettable!

Finally, I found the Estonian band concert unquestionably good, though more lukewarm than exhilarating. Good musicians, an excellent voice and a static and focused in the execution of their music stage stance. And fantastic songs that are what saves our days and nights. All in all, no small feature.




texto e fotos: Guilherme Lucas

Holy Motors - Os Holy Motors (nome retirado ao enigmático e desconcertante filme de 2012, do realizador francês Leos Carax), realizaram o seu primeiro concerto de sempre em território nacional, na sala 2 do Hard Club, sendo que hoje cumprem a sua segunda, e última data lusa, em Lisboa.
Estes estonianos, de Tallin, andam até meados deste mês em tour pela Europa para apresentar o seu primeiro álbum de originais, de nome Slow Sundown e que já conta com quase um ano de existência desde que foi editado em Fevereiro de 2018. De resto, um belíssimo álbum com oito soberbas canções que merece uma escuta cuidadosa e demorada.
Os Holy Motors são uma banda que nos oferece pura magia em toda a sua plenitude, através de um discurso musical e temático que é profundamente cinemático e sedutor. É grupo de velocidade lenta, como num sonho hipnótico, enevoado, em que deambulamos sem rumo, como que a fugir aterrorizados por algo que nos persegue com objetivos sinistros. Toda a sua música é pontuada de pormenores sublimes que concorrem de forma apaixonada para a exaltação das nossas emoções mais recônditas, conseguindo emocionar-nos e transportar-nos para paragens da mais profunda beleza melancólica e absolutamente noir. São, de uma maneira muito própria, psicadélicos no suspense enigmático que as suas texturas sonoras nos transmitem.

O quinteto está musicalmente inserido dentro do shoegaze, com derivações residuais de algum post-punk, numa postura marcadamente indie-pop e muito por via de uma fórmula que é bastante identificável com alguns nomes maiores que assinaram a melhor música das últimas décadas. Há na sonoridade das guitarras destes Holy Motors os fantasmas seminais de um genial Rowland S. Howard (embora numa postura mais contida e bem menos incendiária) ou de um brilhante James Wilsey naquilo que remete para as paragens mais surf e dream pop das suas canções. Percebe-se também essa estética musical revisitada, pelos ambientes à la Morricone ou à la David Lynch nas ambiências mais obscuras e densas da sua música, um lado mais Tarantino, na sua vertente mais country-western e de “flamengo” obscuro, de toda uma escola que vai desde os My Bloody Valentine até aos Cocteau Twins ou Slowdive, entre outros, que se inserem nos mesmos propósitos. Finalmente há sempre a pairar a omnipresença de uns Mazzy Star, de uma Hope Sandoval ou até de uns Cowboy Junkies no estilo de canto dolente, do mais puro e doce abandono, de Elian Tulve, vocalista destes Holy Motors.
Não sendo uma banda original nos seus propósitos musicais e estéticos, estes Holy Motors não deixam de ser por isso menos interessantes. Porque o seu campo de ação é completamente imbuído de mistério e sonho, e muito intenso por isso. Revisitando o que outros - poucos - fizeram de forma pioneira, reinventam e revitalizam todo um discurso que nos é devolvido de forma convicta e bastante convincente. Gostamos destes Holy Motors porque gostamos das fontes iniciais a que eles foram beber para compor as suas canções.

Pessoalmente, existiu um momento maior em relação a todo o seu espetáculo quando interpretaram o fabuloso tema Sleeprydr no seu solo final, que foi de cortar a respiração. Valeu por todo o concerto porque condensa genialmente todas as influências atrás citadas e que por si só define o que é, em grande parte, o shoegaze. Inesquecível!

Finalizando, achei inquestionavelmente bom o concerto destes estonianos, embora mais para o morno do que para o entusiasmante. Bons músicos, uma excelente voz e uma postura em palco estática e muito compenetrada na execução da sua música. E canções fantásticas, que são o que nos salva os dias e as noites. É por aí, e já não é pouco.





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