words: Guilherme Lucas (freely translated by Raquel
Pinheiro); photos Guilherme Lucas
Holy Motors (name taken from French director Leos
Carax s enigmatic and bewildering 2012 film) played their first ever Portuguese concert
in Hard Club’s Sala 2 and today they facet their second, and last Portuguese
gig in Lisboa.
The Estonians, from Tallinn have been touring Europe
for the first time to present their debut album, Slow Sundown, that was
releases almost a year ago in February 2018. It is a beautiful album with eight
superb songs that deserve a careful and long listening.
Holy Motors are a band that offers us pure magic in all
its wonder, through deeply cinematic and seductive musical and thematic
discourse. They’re a slow speed group, like a hypnotic, misty dream, in which
we wander aimlessly, as we’re fleeing terrified of something that haunts us
with sinister intentions. All their music is punctuated with sublime details
that compete passionately for the exaltation of our innermost emotions,
managing to move and transport us to the deepest melancholy and absolutely dark
beauty. They are, in their very own way, psychedelic in the cryptic suspense
that their sonic textures convey to us.
The quintet is musically inserted into shoegaze, with
residual post-punk derivations (although in a remarkably indie-pop posture,
very much through a quite identifiable formula with some of the biggest names
that have signed the best music of the last few decades. Holy Motors’ guitar
sounds have the seminal ghosts of the genial Rowland S. Howard (though in a
more contained and much less inflammatory way) or the brilliant James Wilsey in
what refers to the more surf and dream pop landscapes of their songs. One can
also see that revisited musical aesthetic, by the a la Morricone or David Lynch
ambient in the darker and denser ambiences of their music. One side more
Tarantino, in its more country-western fashion and obscure "flamenco",
and an entire lineage that, among others, goes from My Bloody Valentine to
Cocteau Twins or Slowdive that fit the same purposes. Finally, there is always
the omnipresence of Mazzy Star, Hope Sandoval or even Cowboy Junkies in Elian
Tulve, Holy Motors’ lead singer mournful singing style of the purest and
sweetest abandon.
Not being an original band in their musical and
aesthetic purposes, Holy Motors aren’t less interesting because of it. Their
field of action is completely imbued with mystery and dream, and, therefore, very
intense. Revisiting what others - a few - have done in a pioneering way,
reinventing and revitalizing an entire discourse that is send back to us in a sure
and quite convincing way. We liked Holy Motors because we like the main sources
where they drank from to compose their songs.
Personally, there was a greater momentum in their all
performance: when they played the fabulous Sleeprydr in their breathtaking
final solo. It was worthy the whole concert
because it brilliantly summarizes
all the above-mentioned influences and on its own defines what is, in large
part, shoegaze. Unforgettable!
Finally, I found the Estonian band concert
unquestionably good, though more lukewarm than exhilarating. Good musicians, an
excellent voice and a static and focused in the execution of their music stage stance.
And fantastic songs that are what saves our days and nights. All in all, no
small feature.
texto e fotos: Guilherme Lucas
Holy Motors - Os Holy Motors (nome retirado ao
enigmático e desconcertante filme de 2012, do realizador francês Leos Carax),
realizaram o seu primeiro concerto de sempre em território nacional, na sala 2
do Hard Club, sendo que hoje cumprem a sua segunda, e última data lusa, em
Lisboa.
Estes estonianos, de Tallin, andam até meados deste
mês em tour pela Europa para apresentar o seu primeiro álbum de originais, de
nome Slow Sundown e que já conta com quase um ano de existência desde que foi
editado em Fevereiro de 2018. De resto, um belíssimo álbum com oito soberbas canções
que merece uma escuta cuidadosa e demorada.
Os Holy Motors são uma banda que nos oferece pura
magia em toda a sua plenitude, através de um discurso musical e temático que é
profundamente cinemático e sedutor. É grupo de velocidade lenta, como num sonho
hipnótico, enevoado, em que deambulamos sem rumo, como que a fugir
aterrorizados por algo que nos persegue com objetivos sinistros. Toda a sua
música é pontuada de pormenores sublimes que concorrem de forma apaixonada para
a exaltação das nossas emoções mais recônditas, conseguindo emocionar-nos e
transportar-nos para paragens da mais profunda beleza melancólica e
absolutamente noir. São, de uma maneira muito própria, psicadélicos no suspense
enigmático que as suas texturas sonoras nos transmitem.
O quinteto está musicalmente inserido dentro do
shoegaze, com derivações residuais de algum post-punk, numa postura
marcadamente indie-pop e muito por via de uma fórmula que é bastante
identificável com alguns nomes maiores que assinaram a melhor música das últimas
décadas. Há na sonoridade das guitarras destes Holy Motors os fantasmas
seminais de um genial Rowland S. Howard (embora numa postura mais contida e bem
menos incendiária) ou de um brilhante James Wilsey naquilo que remete para as
paragens mais surf e dream pop das suas canções. Percebe-se também essa
estética musical revisitada, pelos ambientes à la Morricone ou à la David Lynch
nas ambiências mais obscuras e densas da sua música, um lado mais Tarantino, na
sua vertente mais country-western e de “flamengo” obscuro, de toda uma escola
que vai desde os My Bloody Valentine até aos Cocteau Twins ou Slowdive, entre
outros, que se inserem nos mesmos propósitos. Finalmente há sempre a pairar a
omnipresença de uns Mazzy Star, de uma Hope Sandoval ou até de uns Cowboy
Junkies no estilo de canto dolente, do mais puro e doce abandono, de Elian
Tulve, vocalista destes Holy Motors.
Não sendo uma banda original nos seus propósitos
musicais e estéticos, estes Holy Motors não deixam de ser por isso menos
interessantes. Porque o seu campo de ação é completamente imbuído de mistério e
sonho, e muito intenso por isso. Revisitando o que outros - poucos - fizeram de
forma pioneira, reinventam e revitalizam todo um discurso que nos é devolvido
de forma convicta e bastante convincente. Gostamos destes Holy Motors porque
gostamos das fontes iniciais a que eles foram beber para compor as suas
canções.
Pessoalmente, existiu um momento maior em relação a
todo o seu espetáculo quando interpretaram o fabuloso tema Sleeprydr no seu
solo final, que foi de cortar a respiração. Valeu por todo o concerto porque
condensa genialmente todas as influências atrás citadas e que por si só define
o que é, em grande parte, o shoegaze. Inesquecível!
Finalizando, achei inquestionavelmente bom o concerto
destes estonianos, embora mais para o morno do que para o entusiasmante. Bons
músicos, uma excelente voz e uma postura em palco estática e muito compenetrada
na execução da sua música. E canções fantásticas, que são o que nos salva os
dias e as noites. É por aí, e já não é pouco.
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