words:
Guilherme Lucas (freely translated by Raquel Pinheiro); photos: Guilherme Lucas
Last Monday’s
Porto / Post / Doc session at Passos Manuel promised a good music performance.
That was what nicely happened with two good surprises. One of them was the
screening of a short film about The Velvet Underground, a showcase by Little
Friend, musician John Almeida’s project. Dario Oliveira, the festival’s
director, gave a short speech to the audience about each topic, repeating the
idea that, throughout its existence, the festival was always imbued with
rock'n'roll’s spirit and that it always had a place in its heart with films or
concerts.
The Velvet
Underground Played at My High School is a seven-minutes animated short-story
directed by Tony Jannelli and Robert Pietri in 2018. It results from a
crowdfunding campaign.
On December
12, 1965, The Velvet Underground performed at Summit High School’s party on the
outskirts of New Jersey, NY, before an audience of teen student shocked by
their sound. It was the band’s first concert and there ia no photographic, film
or audio record. They performed for twenty minutes, playing There She Goes,
Venus In Furs and Heroin, while more than half the audience (who had come to
see the main act, Myddle Class, a garage rock band) leaves the room, confused
and outraged with what they were listening to.
Anthony
Jannelli, one of the students who remained in the room until the end of the
short show, tells us the story in this short film. Afterwards, he was never the
same. The concert changed his life. Until then, Jannelli was a teenager very
interested in rock music and an avid vinyl buyer. He was a teenager who inbued
with rock'n'roll culture. This proviso helps to better understand what follows.
Jannelli's
voice-over narration of what happened by then is as dramatic as it is amusing.
The hilarious description of the kind of sound he was hearing for the first
time, he did not know how to classify it, such luminous revelation, between
"noise was so much that it seemed that they were killing a cat," or
"seeing a drummer playing standing, not knowing if it was a man or a woman
... I had never seen anything like it, drummers always play seated”, or "I
was listening to a song that spoke of domination and sado-masochism, I could
not believe my ears and was imagining myself in one of those situations."
After the
concert, questioning his colleagues about what had happened, Jannelli
internalizes that the moment will be decisive to his entire life, since he had
irrevocably changed his perception of reality, the meaning of art ... and of
rock ' n'roll. He realized that the way he absorbed the difference in sound and
The Velvet Underground’s obscure performance in a magical and yielded fashion
made him unlike most of his classmates who only saw the band’s noise and
nonsense, something extremely unpleasant.
In such
regard this short film ends with a flourish in its reflexive synthesis, in
Jannelli's words, sums up the soothing idea that the underground always finds
us (to those who passionately seek it avidly and are sensitive to the aesthetic
ruptures that it always foster). As much as we look for it in our daily lives,
the underground will always comes to, and surprises us when we least expect it,
sometimes disguised as a band, sometimes as a book, poem, film or painting ...
and saves us.
The duality
between the meaning of the underground and the name of the band - The Velvet
Underground – is, in this case, a lucky encounter or chance (pick the meaning
you want), since this is the band that invented what we now, generically, call
underground music; that all types of music that eludes the conventional
parameters and that promotes new aesthetic directions. It can also be called
avant-garde, a more classic designation.
This is an
animation with a good graphic design, a good script, short, precise, and very
effective in terms of storytelling in connection with of The Velvet
Underground’s sound. I found this short-animation very good; in seven minutes
condenses and explains in a simple way the true meaning of underground music.
To that extent, it provides a timeless explanation, not limited to music alone.
I wonder if those
who do not enjoy music or who are not connected to underground matters can find
in this film something greater than just a good animation. Because it is always
a matter of sensibilities, like the student who stayed until the end of the
concert, when all the others left in stampede.
texto e
fotos: Guilherme Lucas
A sessão
da noite da passada segunda-feira do Porto/Post/Doc, no Passos Manuel, prometia
um serão de boa música. E foi isso que ocorreu, de forma bem agradável e com
duas boas surpresas. Uma delas era a exibição de uma curta-metragem sobre os
The Velvet Underground e a outra de um showcase de Little Friend, um projeto do
músico John Almeida. Dario Oliveira, diretor do festival, fez uma breve
alocução ao auditório sobre cada um destes tópicos, renovando a ideia de que o
festival é, todo ele, imbuído do espírito rock’n’roll e que este sempre teve um
espaço reservado, tanto a nível de filmes como de concertos ao vivo, ao longo
da sua existência. Confirmo. Passou-se à projeção da curta-metragem.
The Velvet
Underground Played at My High School é uma curta-metragem de animação narrada,
de apenas sete minutos de duração, realizada em 2018, nos EUA, pela dupla Tony
Jannelli e Robert Pietri. É fruto de uma campanha de crowdfunding.
No dia 12 de
Dezembro de 1965, os The Velvet Underground atuam numa festa de uma escola
secundária (Summit High School), na periferia de New Jersey, NY, para uma
audiência de estudantes adolescentes chocada com o seu som, naquele que é o
primeiro concerto da banda, e do qual não há nenhum registo fotográfico, em
película ou áudio. Estão em palco durante vinte minutos, tocando os temas There
She Goes, Venus In Furs e Heroin, à medida que mais de metade da audiência (que
tinha ido para ver a banda principal, os Myddle Class, um grupo de garage
rock), abandona a sala, confusa e indignada, com o que estava a escutar.
Este
acontecimento é-nos relatado, através desta curta, por um dos seus
participantes (e também realizador), Anthony Jannelli, um dos estudantes que
permaneceu na sala até ao final desse curto espetáculo. E que nunca mais foi o
mesmo depois desse concerto, que mudou a sua vida. Jannelli era, até àquele
momento, um adolescente muito interessado em música rock e ávido comprador de
vinil. Ou seja, era um adolescente que tinha cultura rock’n’roll. Esta ressalva
que faço aqui, ajuda a compreender melhor o que vem a seguir.
A narração em
voz-off de Jannelli do que ocorreu é tão dramática quanto divertida sobre esse
momento. A descrição hilariante dos pormenores sobre o tipo de som que estava a
ouvir pela primeira vez, e que não sabia como classificar, qual revelação
luminosa, entre um “o ruído era tal que parecia que estavam a matar um gato”,
ou “nunca tinha visto um baterista a tocar de pé, não percebia se o baterista
era um homem ou mulher… nunca tinha visto nada assim, os bateristas sempre
tocam sentados”, ou ainda “ estava a escutar uma música que falava de dominação
e sado-masoquismo, eu não estava a acreditar no que estava a ouvir e estava a imaginar-me
numa daquelas situações”.
É, após esse
concerto, que Jannelli, questionando os outros colegas sobre o que tinha
acontecido, interioriza, que aquele momento será determinante para toda a sua
vida, pois mudara irremediavelmente a sua percepção da realidade, do
significado de arte… e do rock’n’roll. Percebeu que a forma como absorvera a
diferença do som, e da atuação obscura dos The Velvet Underground, de forma
mágica e rendida, o fazia diferente da maioria dos seus colegas, que só viram
na banda ruído e non-sense, algo extremamente desagradável.
É neste
aspeto que esta curta-metragem termina com chave-de-ouro na sua síntese
reflexiva e que se resume, nas palavras de Jannelli, à reconfortante ideia de
que o underground sempre nos encontra (a quem o procura apaixonadamente, de
forma ávida, e é sensível às rupturas estéticas que este sempre promove). Por
mais que o procuremos no dia-a-dia, o underground sempre nos visita e nos
surpreende, quando menos o esperamos, por vezes disfarçado de banda, outras
vezes de livro, de poema, filme ou pintura… e nos salva.
A dualidade
entre o significado de underground com o nome da banda The Velvet Underground é
neste caso um feliz encontro ou acaso (entenda-se como se quiser), já que esta
é a banda que inventou o que hoje denominamos em termos generalistas de música
underground; ou seja todo o tipo de música que foge aos parâmetros
convencionais e que promove novas direções estéticas. Pode-se também denominar
de vanguarda, que é uma designação mais clássica.
Esta é uma
animação, com bons desenhos em termos gráficos, com um bom guião, curto e
preciso, e muito eficaz em termos de narração com a sua ligação ao som dos The
Velvet Underground. Achei esta curta-animação muito boa; em sete minutos
condensa e explica de forma simples o verdadeiro significado do que é a música
underground. Fornece, nessa medida, uma explicação intemporal, e que não se
limita só à música.
Pergunto-me
é, se quem não aprecia música ou que até não esteja ligado a estas matérias do
underground, consegue encontrar nesta película algo maior do que apenas uma boa
animação. Porque esta é sempre uma questão de sensibilidades, como o aluno que
ficou até ao fim do concerto, e todos os outros que saíram em debandada.
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