Thursday, 29 November 2018

The Velvet Underground Played at My High School, Anthony Jannelli, Robert Pietri, 2018, US, 7 + Showcase Little Friend’ – Porto/Post/Doc – Transmission, 10pm - Passos Manuel, Porto, 26.11.2018. - Part 1 - The Velvet Underground Played at My High School


words: Guilherme Lucas (freely translated by Raquel Pinheiro); photos: Guilherme Lucas

Last Monday’s Porto / Post / Doc session at Passos Manuel promised a good music performance. That was what nicely happened with two good surprises. One of them was the screening of a short film about The Velvet Underground, a showcase by Little Friend, musician John Almeida’s project. Dario Oliveira, the festival’s director, gave a short speech to the audience about each topic, repeating the idea that, throughout its existence, the festival was always imbued with rock'n'roll’s spirit and that it always had a place in its heart with films or concerts. 

The Velvet Underground Played at My High School is a seven-minutes animated short-story directed by Tony Jannelli and Robert Pietri in 2018. It results from a crowdfunding campaign.

On December 12, 1965, The Velvet Underground performed at Summit High School’s party on the outskirts of New Jersey, NY, before an audience of teen student shocked by their sound. It was the band’s first concert and there ia no photographic, film or audio record. They performed for twenty minutes, playing There She Goes, Venus In Furs and Heroin, while more than half the audience (who had come to see the main act, Myddle Class, a garage rock band) leaves the room, confused and outraged with what they were listening to.

Anthony Jannelli, one of the students who remained in the room until the end of the short show, tells us the story in this short film. Afterwards, he was never the same. The concert changed his life. Until then, Jannelli was a teenager very interested in rock music and an avid vinyl buyer. He was a teenager who inbued with rock'n'roll culture. This proviso helps to better understand what follows.
Jannelli's voice-over narration of what happened by then is as dramatic as it is amusing. The hilarious description of the kind of sound he was hearing for the first time, he did not know how to classify it, such luminous revelation, between "noise was so much that it seemed that they were killing a cat," or "seeing a drummer playing standing, not knowing if it was a man or a woman ... I had never seen anything like it, drummers always play seated”, or "I was listening to a song that spoke of domination and sado-masochism, I could not believe my ears and was imagining myself in one of those situations."

After the concert, questioning his colleagues about what had happened, Jannelli internalizes that the moment will be decisive to his entire life, since he had irrevocably changed his perception of reality, the meaning of art ... and of rock ' n'roll. He realized that the way he absorbed the difference in sound and The Velvet Underground’s obscure performance in a magical and yielded fashion made him unlike most of his classmates who only saw the band’s noise and nonsense, something extremely unpleasant.

In such regard this short film ends with a flourish in its reflexive synthesis, in Jannelli's words, sums up the soothing idea that the underground always finds us (to those who passionately seek it avidly and are sensitive to the aesthetic ruptures that it always foster). As much as we look for it in our daily lives, the underground will always comes to, and surprises us when we least expect it, sometimes disguised as a band, sometimes as a book, poem, film or painting ... and saves us.

The duality between the meaning of the underground and the name of the band - The Velvet Underground – is, in this case, a lucky encounter or chance (pick the meaning you want), since this is the band that invented what we now, generically, call underground music; that all types of music that eludes the conventional parameters and that promotes new aesthetic directions. It can also be called avant-garde, a more classic designation.

This is an animation with a good graphic design, a good script, short, precise, and very effective in terms of storytelling in connection with of The Velvet Underground’s sound. I found this short-animation very good; in seven minutes condenses and explains in a simple way the true meaning of underground music. To that extent, it provides a timeless explanation, not limited to music alone.

I wonder if those who do not enjoy music or who are not connected to underground matters can find in this film something greater than just a good animation. Because it is always a matter of sensibilities, like the student who stayed until the end of the concert, when all the others left in stampede.





texto e fotos: Guilherme Lucas

A sessão da noite da passada segunda-feira do Porto/Post/Doc, no Passos Manuel, prometia um serão de boa música. E foi isso que ocorreu, de forma bem agradável e com duas boas surpresas. Uma delas era a exibição de uma curta-metragem sobre os The Velvet Underground e a outra de um showcase de Little Friend, um projeto do músico John Almeida. Dario Oliveira, diretor do festival, fez uma breve alocução ao auditório sobre cada um destes tópicos, renovando a ideia de que o festival é, todo ele, imbuído do espírito rock’n’roll e que este sempre teve um espaço reservado, tanto a nível de filmes como de concertos ao vivo, ao longo da sua existência. Confirmo. Passou-se à projeção da curta-metragem.

The Velvet Underground Played at My High School é uma curta-metragem de animação narrada, de apenas sete minutos de duração, realizada em 2018, nos EUA, pela dupla Tony Jannelli e Robert Pietri. É fruto de uma campanha de crowdfunding.

No dia 12 de Dezembro de 1965, os The Velvet Underground atuam numa festa de uma escola secundária (Summit High School), na periferia de New Jersey, NY, para uma audiência de estudantes adolescentes chocada com o seu som, naquele que é o primeiro concerto da banda, e do qual não há nenhum registo fotográfico, em película ou áudio. Estão em palco durante vinte minutos, tocando os temas There She Goes, Venus In Furs e Heroin, à medida que mais de metade da audiência (que tinha ido para ver a banda principal, os Myddle Class, um grupo de garage rock), abandona a sala, confusa e indignada, com o que estava a escutar.

Este acontecimento é-nos relatado, através desta curta, por um dos seus participantes (e também realizador), Anthony Jannelli, um dos estudantes que permaneceu na sala até ao final desse curto espetáculo. E que nunca mais foi o mesmo depois desse concerto, que mudou a sua vida. Jannelli era, até àquele momento, um adolescente muito interessado em música rock e ávido comprador de vinil. Ou seja, era um adolescente que tinha cultura rock’n’roll. Esta ressalva que faço aqui, ajuda a compreender melhor o que vem a seguir.

A narração em voz-off de Jannelli do que ocorreu é tão dramática quanto divertida sobre esse momento. A descrição hilariante dos pormenores sobre o tipo de som que estava a ouvir pela primeira vez, e que não sabia como classificar, qual revelação luminosa, entre um “o ruído era tal que parecia que estavam a matar um gato”, ou “nunca tinha visto um baterista a tocar de pé, não percebia se o baterista era um homem ou mulher… nunca tinha visto nada assim, os bateristas sempre tocam sentados”, ou ainda “ estava a escutar uma música que falava de dominação e sado-masoquismo, eu não estava a acreditar no que estava a ouvir e estava a imaginar-me numa daquelas situações”.
É, após esse concerto, que Jannelli, questionando os outros colegas sobre o que tinha acontecido, interioriza, que aquele momento será determinante para toda a sua vida, pois mudara irremediavelmente a sua percepção da realidade, do significado de arte… e do rock’n’roll. Percebeu que a forma como absorvera a diferença do som, e da atuação obscura dos The Velvet Underground, de forma mágica e rendida, o fazia diferente da maioria dos seus colegas, que só viram na banda ruído e non-sense, algo extremamente desagradável.

É neste aspeto que esta curta-metragem termina com chave-de-ouro na sua síntese reflexiva e que se resume, nas palavras de Jannelli, à reconfortante ideia de que o underground sempre nos encontra (a quem o procura apaixonadamente, de forma ávida, e é sensível às rupturas estéticas que este sempre promove). Por mais que o procuremos no dia-a-dia, o underground sempre nos visita e nos surpreende, quando menos o esperamos, por vezes disfarçado de banda, outras vezes de livro, de poema, filme ou pintura… e nos salva.

A dualidade entre o significado de underground com o nome da banda The Velvet Underground é neste caso um feliz encontro ou acaso (entenda-se como se quiser), já que esta é a banda que inventou o que hoje denominamos em termos generalistas de música underground; ou seja todo o tipo de música que foge aos parâmetros convencionais e que promove novas direções estéticas. Pode-se também denominar de vanguarda, que é uma designação mais clássica.
Esta é uma animação, com bons desenhos em termos gráficos, com um bom guião, curto e preciso, e muito eficaz em termos de narração com a sua ligação ao som dos The Velvet Underground. Achei esta curta-animação muito boa; em sete minutos condensa e explica de forma simples o verdadeiro significado do que é a música underground. Fornece, nessa medida, uma explicação intemporal, e que não se limita só à música.

Pergunto-me é, se quem não aprecia música ou que até não esteja ligado a estas matérias do underground, consegue encontrar nesta película algo maior do que apenas uma boa animação. Porque esta é sempre uma questão de sensibilidades, como o aluno que ficou até ao fim do concerto, e todos os outros que saíram em debandada.

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