Monday, 23 July 2018

Fur Dixon Music, Barracuda - Clube de Roque, Porto, 20.07.2018.

© Guilherme Lucas

Words: Guilherme Lucas (freely translated by Raquel Pinheiro); photos: Guilherme Lucas

Fur Dixon is part of my classic and primitive iconography of 80's underground rock'n'roll, when "loving" The Cramps was an urgent need for any fan of the darkest sounds of that era. It was, among other possibilities, the courageous and unorthodox form of being on the other side of the barricade, facing other more pop and generalist sounds that was an assertion of independence, nonconformity, and adolescent anguish. Her presence on an UK a TV show (https://www.youtube.com/watch?v=r92XTMRy2gs), as The Cramps bass player, recorded on video for posterity, remained forever in my imagination, in the Summer of 1986. She represented to me (and to a few others), the ideal and sexy archetype of a desired girlfriend that, by then, any punk wished to have ...
Fur Dixon and her Wtfukushima, her current new band- project is touring Europe to promote tour their debut album, Return 2 Sender, released this month (https://furdixon.bandcamp.com/), they played at Barracuda, Porto last Friday.
Surprisingly, Fur Dixon is a great singer, one of those we fell in love promptly with her melodic … and definitely sweet voice. Her songs lie within the great American rock'n'roll tradition, with approaches that at times are country, and at others blues, with a garage punk address, but always with the intention of doing something great that lasts throughout the years; that, in the end, only creates excellent songs to be listened in many occasions of life, beyond the genres and trends of the moment. There is a depth to many of Fur Dixon's lyrics on this album that further enhances it, proof of its genuineness and commitment to the way she spreads her emotions and thoughts through music. That's why she's a talented songwriter.

Fur Dixon was very friendly towards the audience throughout the show, telling more or less painful moments the tour and how good it was to be in the beautiful city of Porto after a nightmare, somewhere in Spain, on muddy ground, at some festival and how she hates Trump and she was satisfeit with the public demonstrations against him while they were touring in the UK. She begged the audience to find a way to get rid of the man who that shames of her as an American citizen ... There was no answer, but I only admired her more for her political stance and conscience. She also let the audience knew that the band was about to cancel the tour because the drummer had to cease his involvement in the band due to unavoidable family issues in the US ... and that the present drummer playing with them had just been brought aboard a few hours after rehearsals ... and that he was doing very well. I fully confirm it, and given the matter, he played excellently. It's just rock'n'roll!

Supported by excellent musicians with due credits other renowned bands (The Fuzztones, The Dream Syndicate, etc.), the sort that without great technical virtuosity, always manage to make the perfect connection between the movements and the silences of the songs, it was a smouldering concert but to the point and in crescendo, ending in apotheosis with the performance of some The Cramps songs. And if the inclusion of themes from the legendary band in Wtfukushima’s concert were - for every conceivable reason one can - I was also convinced that Fur Dixon can clearly do without them, when it comes to her own repertoire, which is of great quality and enough in itself. Nowadays, she does not need the memories, to validate herself.


I really enjoyed Fur Dixon’s concert, it had something special for me, that was being achieved/conquered throughout, it won me. But not just that. I like her album, Return 2 Sender, its songs and I also really enjoyed their artistic stance live. Nowadays she is a rare artist. Therefore, precious. From now on, I will remember her as the punk country and blues diva.

© Guilherme Lucas

Texto & fotos: Guilherme Lucas
Fur Dixon faz parte da minha iconografia clássica e primordial do rock’n’roll underground dos anos 80, quando “adorar” os The Cramps era uma necessidade urgente para qualquer fã dos sons mais obscuros dessa época. Era, entre outras possibilidades, a forma corajosa, e nada ortodoxa, de se estar do outro lado da barricada, face a outros sons mais pop e generalistas, feita qual afirmação de independência, inconformismo e angústia adolescente. A sua atuação num programa de TV no Reino Unido (https://www.youtube.com/watch?v=r92XTMRy2gs), como baixista dos The Cramps, registado em vídeo para a posterioridade, ficou para sempre retida no meu imaginário, nesse Verão de 1986. Ela representava para mim (e para alguns mais), o arquétipo ideal e sexy de uma desejada namorada que qualquer punk queria ter na época…

Fur Dixon e os seus Wtfukushima, a sua nova banda/projeto na atualidade, está em tour europeia de promoção ao seu primeiro álbum, lançado neste mês de Julho de nome Return 2 Sender (https://furdixon.bandcamp.com/), e na Sexta-feira passada apresentaram-se ao vivo na Invicta, no bar Barracuda.

Fur Dixon é surpreendentemente uma enorme cantora, daquelas com que nos apaixonamos de imediato pela sua voz de grande alcance melódico… e definitivamente doce. Os seus temas estão dentro da enorme tradição do rock’n’roll norte-americano, com abordagens ora country, ora blues, dentro de um discurso garage punk, mas sempre num seguimento intencional de fazer algo grande e que perdure ao longo dos anos; que no final apenas resultem excelentes canções para se ouvir em muitas ocasiões da vida, para além dos géneros e tendências do momento. Há profundidade em muitas das letras de Fur Dixon neste seu álbum, o que a engrandece mais, pois é prova da sua genuinidade e comprometimento com a forma como extravasa as suas emoções e pensamentos pela música. É por isso, uma talentosa compositora de verdadeiras canções.

Fur Dixon mostrou-se muito simpática, ao longo do espetáculo, com o público presente, expondo momentos mais ou menos penosos desta sua tour e de como era bom estar na bonita cidade do Porto, depois de passarem por um pesadelo, algures em Espanha, em terrenos lamacentos, num festival qualquer e de como odeia Trump e se congratulou com as manifestações públicas contra ele enquanto faziam a sua tour no Reino Unido. Implorou à audiência que se encontrasse um meio de se verem livre do homem, que tanto a envergonha, enquanto cidadã norte-americana… não houve resposta, mas só fiquei a admirá-la mais pela sua postura e consciência política. Informou também a audiência que a banda esteve para cancelar a presente tour, pois o seu baterista teve de suspender a sua participação no grupo devido a questões familiares inadiáveis nos EUA… e que o presente baterista a tocar com eles só tinha sido incorporado há umas poucas horas de ensaio… e que estava a sair-se muito bem. Confirmo plenamente, e considerando a questão, atuou de forma excelente. É só rock’n’roll!

Acompanhada por excelentes músicos com créditos firmados em outras bandas de renome (The Fuzztones, The Dream Syndicate, etc), daqueles que sem grandes virtuosismos técnicos, conseguem fazer sempre a ligação perfeita entre os andamentos e os silêncios das músicas, o concerto foi de combustão lenta, mas certeira e em crescendo, acabando na apoteose com a interpretação de alguns temas dos The Cramps. E se já era previsível a inclusão de repertório da lendária banda no concerto dos Wtfukushima - por todas as razões e mais uma que se possa imaginar - também fiquei convicto que Fur Dixon pode claramente prescindir deles, face ao seu próprio repertório, que é de grande qualidade e que se basta a si mesmo. Não precisa das memórias, para se validar por si mesma, na atualidade.
Gostei imenso deste concerto de Fur Dixon, teve algo de especial para mim e que foi sendo conseguido/conquistado a pulso ao longo do espetáculo. Mas não só por isso. Gosto deste seu álbum Return 2 Sender, das suas canções e porque apreciei bastante a sua postura artística ao vivo. É uma artista rara nos dias de hoje. Preciosa, por isso. Passarei a lembrar-me dela, a partir de agora, como a diva punk do country e do blues.



© Guilherme Lucas

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