Lydia Lunch © Guilherme Lucas |
words: Guilherme Lucas (freely translated by Raquel Pinheiro);
photos Guilherme Lucas
Lydia Lunch is one of the most important personalities of New
York's no-wave and post-punk music scene of the 1980s. She’s a pioneer and
survivor of a passionate, literary genre, without aesthetic or ideological
barriers, the best underground music has given us over the last few decades.
She is part of a generation of geniuses and influential personalities when it
comes to music, writing and performance, and for that very reason she is living
history, or a legend, of popular underground music, depending on how you want
to catalog her.
The artist presented herself to the public last Saturday at
Galeria Municipal in Porto with her enthralling spoken word work named Dust and
Shadows, following the exhibition O
ontem morreu hoje, o hoje morre amanhã
(Yesterday died today, today dies tomorrow) - an exhibitions of emerging
local artists with works related to their nightlife experiences, using posters
and images for electronic music events, DJ sets and others -, where the biggest
name, and possibly the catalyst of this exhibition, is Raymond Pettibon the
great American artist author of all the graphic aesthetics of the mighty Black
Flag, one of the most important and seminal punk-hardcore world’s bands. In
short, the black and white aesthetics of grotesque and crude proportions, often
minimal and naively "poorly drawn" is what unites all these artists.
I strongly a recommend to the exhibition.
Lydia Lunch hypnotically led us to a mind-boggling performance
of the word, transformed into a psychedelic device of rambling the urgent and
depressing thoughts that plague the mind of the artist and which that is simply
astonishing, and leaves no one indifferent. Because what confronts us over 45
minutes is simply a person’s Life in every possible and conceivable way.
Initially focusing on freedom in its more politicized
understanding of how the state and corporations control us all, from the mere
use of a Visa card to TV or the Internet, it immediately moves into a closed
attack on the US and its varied
idiosyncrasies that are fulminantly bare naked, resorting to her personal
concept of chaos and its liberating power, taking us to her obscure world of
ghost-emotions that torment our memories, warning us in advance, that, one day
we will also become one of them. There is an ecstatic dark humor, a violent
convulsion in everything the artist approaches, as if there was no salvation.
She claims to be a survivor, of all kinds of lives and drugs, real and
imaginary. But it is precisely in this apparent negativity that lies all the love
for Life, For Mother Nature, and people by Lydia Lunch. When she reveals to us,
in an aggressive and defiant manner, that the true and only rebellion is
pleasure, it is more than obvious that we are facing someone with huge
substance; a rare mind with important things to be listened to. At the end of
her show, she writes, in the form of a poignant eulogy, chilling and
distressing, about what can be said to someone who only has 30 days of live an
ends up only having 30 hours to live and that quickly changes to only 3 hours
and only 3 more minute, poisoned with medication, trying to fight for life,
trying at all costs to save the hope for a life that is ending ... and there
are only three seconds left to live and the only thing that can be done is to
hold hands with the dying person say that they will quickly become a king and
that, in a vortex of light, will enter another dimension, turned into subatomic
particles in the ether, in ashes ... this is a moment one can never forget,
because it a very strong thing, an intensely evident visualization of how the
artist publicly exposes herself abour end of life. This moment of the show is
very shocking, made with a feeling that hundreds of noisy rock bands of and
others will never be able to cross to an audience. The word, when well used, is
very powerful ... overwhelming.
What I essentially retained from the artist (who has visited us
several times in the past) latest performance is that ostensibly, Lydia Lunch
is a kind of up-to-date and very peculiar upgrade of the great blues and jazz
singers of the past, a diva of debauchery and chaos, pleasure and lust; owner
of a powerful voice with a great timbre reach, that proclaims freedom in a way
that is neither obvious nor common sense. That is what makes her unique: one
among billions. In addition, she is also someone with active political
consciousness; always finding a way of relating eminently literary themes and
emotive subjects with a hard and crude social reality, attacking in an
vitriolic way what in her view of reality has to be destroyed.
Therefore, I believe, that watching one of her performances is
always an unforgettable life experience, one of those that will last forever in
our memories. At least that's what happened to me.
Lydia Lunch © Guilherme Lucas |
Lydia Lunch © Guilherme Lucas |
Texto e fotos: Guilherme Lucas
Lydia Lunch Performance-
Lydia Lunch é uma das mais importantes personalidades do meio musical da
no-wave e do post-punk de Nova York dos anos 80. É uma pioneira e uma
sobrevivente de um género apaixonante, literário, sem barreiras estéticas e
ideológicas, do melhor que a música underground nos deu ao longo destas últimas
décadas. Faz parte de uma geração de génios e de personalidades influentes,
tanto a nível musical, de escrita e de performance, e por isso mesmo é história
viva, ou lenda-viva, da música popular de pendor underground, conforme se a
quiser catalogar.
A artista apresentou-se ao público, no passado sábado, na
Galeria Municipal do Porto, com o seu apaixonante trabalho de tipologia spoken
word de nome Dust and Shadows, no seguimento da exposição “O ontem morreu hoje,
o hoje morre amanhã” (uma mostra de artistas locais emergentes com trabalhos
orientados dentro da temática das suas experiências de vida noturna – através
de cartazes e imagens para eventos de música eletrónica, DJ sets e outros), e
onde o nome maior - e eventualmente o catalisador desta exposição - é o enorme
artista norte-americano Raymond Pettibon, o autor de toda a estética
gráfica dos grandiosos Black Flag, uma das mais importantes e seminais bandas
do punk-hardcore global. De forma muito resumida, a estética do preto e branco
de proporções grotescas e cruas, em muitos casos minimal e “mal desenhada” de
forma naíf, é o que une todos estes artistas. Uma exposição que recomendo
vivamente para ser visitada.
Lydia Lunch conduziu-nos de forma hipnótica para uma alucinante
performance da palavra, transformada em qual artefacto psicadélico de divagação
dos pensamentos urgentes e depressivos que assolam a mente da artista e que é
simplesmente assombrosa, e não deixa ninguém indiferente. Porque o que esta nos
confronta ao longo de 45 minutos é simplesmente a Vida em todas as vertentes
possíveis e imagináveis do indivíduo.
Inicialmente focando-se sobre a liberdade no seu entendimento mais politizado, de como o Estado e as corporações nos controlam a todos, desde o mero uso de um cartão Visa até à tv e internet, de imediato passa para um ataque cerrado aos EUA nas suas mais variadas idiossincrasias que são, de forma fulminante, postas a cru, recorrendo para o seu conceito pessoal de caos e do seu poder libertador, levando-nos ao seu mundo obscuro dos fantasmas-emoções que nos atormentam as memórias, avisando-nos de antemão, de que um dia mais tarde, seremos também um deles. Há um extasiante humor negro, em violenta convulsão, em tudo o que a artista aborda, como se não houvesse salvação. Ela afirma-se uma sobrevivente, de todos os tipos de vidas e de drogas, reais e imaginárias. Mas é precisamente nesta aparente negatividade que reside todo o amor pela Vida, pela Mãe-Natureza, e pelo Indivíduo por parte de Lydia Lunch. Quando nos revela, de forma agressiva e desafiadora, que a verdadeira e única rebelião é o prazer, é mais do que óbvio que estamos perante alguém com imensa substância; uma mente rara com coisas importantes para ser escutada. No final do seu espetáculo, disserta, em forma pungente de elogio fúnebre, arrepiante e angustiante, sobre o que se pode dizer a alguém que só tem 30 dias de vida e que passa só a ter 30 horas de vida e que passa rapidamente a ter 3 horas e só mais 3 minutos, envenenado com medicação, a tentar lutar pela vida, a tentar a todo o custo salvar a esperança para uma vida que se apaga… e só restam mais 3 segundos de vida e a única coisa que se pode fazer é dar as mãos a quem morre e dizer que rapidamente passarás a ser um rei e num vórtex de luz entras numa outra dimensão, feito em partículas subatómicas no éter, em cinzas… este é um momento que jamais se esquece, porque é algo muito forte, de visualização intensamente evidente da forma como a artista se expôe publicamente nesta temática do fim da Vida. Este momento do espetáculo é muito impactante, feito num sentimento que jamais centenas de bandas barulhentas de rock e afins alguma vez conseguirão fazer passar para uma audiência. A palavra, quando bem usada, é muito poderosa… avassaladora.
O que retive essencialmente desta mais recente performance da
artista (que já nos visitou por diversas vezes no passado), é que de forma
ostensiva, Lydia Lunch é uma espécie de upgrade atualizado e muito peculiar das
grandes cantoras de blues e do jazz do passado, uma diva da devassidão e do
caos, do prazer e da luxúria; senhora de uma voz poderosa e de grande alcance
tímbrico, que apregoa a liberdade de uma forma que não é óbvia nem do
senso-comum. É nisso que é uma fora de série; uma entre biliões. Para além
disso, é também alguém com consciência política ativa; encontra sempre uma
forma de relacionar temas eminentemente literários e emotivos com uma realidade
social dura e crua, atacando de forma ácida o que tiver de ser destruído na sua
conceção do real.
Por isso, estou em crer, que assistir a uma sua performance, é sempre uma experiência de vida inesquecível, daquelas que perdurarão eternamente nas nossas memórias. Pelo menos foi isso que aconteceu comigo.
Raymond Pettibon, O ontem morreu hoje, o hoje morre amanhã exhibition © Guilherme Lucas |
Raymond Pettibon, O ontem morreu hoje, o hoje morre amanhã exhibition © Guilherme Lucas |
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