words:
Guilherme Lucas (freely translated by Raquel Pinheiro); photos Guilherme Lucas
Porto’s duo
Baleia, Baleia, Baleia played at Woodstock 69 on Friday night. Baleia are a
relatively new band in the Portuguese music scene. They come to be in 2015, but
only in 2016 did the project had a defined shape. So far, they have two albums on
their resume (Botaperna, July 2017 (a live recording), and Baleia, Baleia,
Baleia, March 2018). It has been several months since they’ve been their latest
album. This show, within Tour das Rabanadas (French Toast Tour) comprising
seven gigs during Christmas and end of the year, was part of that goal.
Baleia,
Baleia, Baleia are a somehow particular band within our current musical landscape
that a lot of interest from several sides of specialized music review as well
as from the general public. Simplifying, they’re hype. What makes them so?
Looking
closely at their repertoire it seems clear to me that it all derives a lot from
a very intelligent fusion with a sense of humo of a whole inheritance/tradition
of singing and writing similar to some of the biggest Portuguese pop-rock acts of
the last decades, backed by a very powerful (and addictive) varied instrumental
within Anglo-Saxon pop-rock-metal.
Many of the
vocals and choruses with which vocalist/bassist Manuel Molarinho expresses
himself, among others, clear suggest references Heróis do Mar or Ana Deus,
Reporter Estrábico or even the more recent Vaiapraia. His lyrics also have a
very well structured analysis of daily life viewed form an adolescent anguish perspective.
A simple, deep and accurate writing, within a programmatic construction of
reality, at times surrealistic and pamphletary. Never disconnected from the main
goal: pass to us messages and feelings
inspired and universal, just as if we were sweetly bitten by a bee. All in a
very direct manner, through a quite crystalline singing so that everyone
understands what they are telling us.
Finally, they
operate on a melting pot of musical influences, ranging from punk to new-wave, hard-rock
to stoner to doom to psychedelic ... and the list goes on, but performed in a
pop, purposeful with a very unique sound. In that regard, there aren’t too many
unnecessary excesses or instrumental reveries; only what is strictly necessary
to build good pop songs, heavy sounded, but not enough to classify them as an overtly
heavy band. There is also joy, even if acid and at times insane emanating from
their themes placing them in a palette of colours sufficiently distant from dark
and obscure, or a deeper and more strict underground. In that, they also make a
difference.
Live, Manuel
Molarinho and Ricardo Cabral (drummer) proved to be excellent musicians. The
type who manages to simplify where others only complicate to show vain skills.
The duo is very pleasantly surprising in the natural way their live songs sound,
but above all by the excellent and very well defined bass lines, which are
remarkable. Baleias most famous theme (I Want to be a Screen) is the best
example of what I mean: one of the best bass lines I remember listening to in
recent years: simply brilliant! But, there is much more.
Baleias are a
good live band; they perfectly fulfill what their songs demand, in a very
empathetic and friendly way with the audience. I find it hard not to like them,
unless one dislikes their repertoire from the start. One realizes that it is a
group that has something more than many others; no longer "one more in the
pile" even though this is not always possible to be described by words.
The two
musicians played all the themes from Baleia, Baleia, Baleia along with a cover
of Daniel Catarino’s Adultério na Igreja and a cover of Mão Morta’s Cão de
Morte in the middle. It was a good show, with the most well lit and best
decorated stage I've seen so far at Woodstock 69 and beyond. At the end of the
performance desired, and, in my view, well deserved both for audience and band,
encore didn’t happen.
In a nutshell:
Whales offered an excellent Friday night for those who went to their concert.
It was a good and, therefore, advisable!
texto e
fotos: Guilherme Lucas
O dueto
portuense Baleia Baleia Baleia apresentou-se ao vivbo no Woodstock 69, na noite
da passada sexta-feira. Estes Baleias são uma banda ainda relativamente recente
no nosso panorama musical nacional. Formaram-se em 2015, mas só em 2016 é que o
projeto ficou definido. Contam, até esta data, com dois álbuns no seu currículo
(Botaperna, de Julho de 2017 (um registo ao vivo), e Baleia, Baleia, Baleia, de
Março de 2018). Andam por isso, há já alguns meses a divulgar em concerto este
seu mais recente trabalho, e este espetáculo fez parte desse objetivo, inserido
na Tour das Rabanadas de sete datas nacionais, durante este período natalício e
de final do ano.
Os Baleia,
Baleia, Baleia são uma banda algo particular dentro do nosso atual panorama
musical e que tem gerado bastante interesse por parte de diversos quadrantes de
alguma crítica musical especializada, mas também do público em geral. Ou seja,
e simplificando, são hype. E então qual o motivo para tal?
Parece-me
evidente, ao analisar atentamente o repertório da banda, que todo ele deriva
muito pelo facto de que fundem, de forma muito inteligente e com sentido de
humor, toda uma herança/tradição de canto e de escrita, que encontra
similaridade com alguns nomes maiores do universo pop/rock português das
últimas décadas, apoiado por um instrumental muito poderoso (e viciante),
musicalmente variado dentro de tipologias pop/rock/metal anglo-saxónicas.
Encontramos
em muitas das vocalizações e refrões com que o vocalista e baixista Manuel
Molarinho se exprime, claras sugestões que nos remetem para uns Heróis do Mar ou
uma Ana Deus, uns Repórter Estrábico ou até a um mais recente Vaiapraia, entre
outras. Mas também há nas suas letras uma muito bem estruturada análise do
quotidiano numa perspetiva de angústia adolescente, com uma escrita simples,
profunda e certeira, dentro de uma construção programática algo surrealista e
panfletária da realidade, mas que jamais se desliga da intenção primeira de nos
transmitir mensagens e sentimentos inspirados e universais, tal como se
fossemos docemente picados por uma abelha. Tudo isto de forma muito direta,
através de um canto muito cristalino para que todos entendam o que nos estão a
transmitir.
Finalmente,
operam num “melting pot” de influências musicais, que vão desde o punk à
new-wave, ao hard-rock, ao stoner, ao doom, ao psicadélico… e a lista fica um
pouco para o infindável, mas que são todas elas executadas de uma forma pop,
objetiva e com um som muito próprio. Não há nesse sentido, muitos excessos ou
devaneios instrumentais desnecessários; só concorre o estritamente necessário
para edificar boas canções de cariz pop, com um som que é pesado, mas não o
suficiente para os classificar como banda ostensivamente pesada. Existe também
uma alegria, mesmo que ácida e algo insana, que emana dos seus temas e que os
localiza numa palete de cores suficientemente afastada do negro e do obscuro,
ou de um underground mais profundo e rígido. E neste aspeto também marcam
diferenças.
Em concerto,
Manuel Molarinho e Ricardo Cabral (baterista), demonstraram ser excelentes
músicos, daqueles que conseguem simplificar onde outros só complicam para
exibir competências vãs. O dueto surpreende muito agradavelmente pela forma
natural como faz soar as suas canções ao vivo, mas acima de tudo pelas
excelentes e muito bem definidas linhas de baixo, que são de assinalável
destaque. O tema mais famoso dos Baleia (Quero ser um Ecrã), é o melhor exemplo
do que refiro: uma das melhores linhas de baixo de que me lembro de escutar nos
últimos anos: simplesmente brilhante! Mas há muitas mais, para além dessa.
Estes Baleias
são uma boa banda ao vivo; cumprem na perfeição o que as suas canções exigem,
num registo muito empático e amistoso com o público. Acho difícil não se gostar
deles, a menos que se deteste o seu repertório à partida. Percebe-se que é
grupo que tem mais alguma coisa do que muitos outros; que não é mais um do
“monte”, mesmo que isso nem sempre seja possível de ser descrito por palavras.
Os dois
músicos interpretaram todos os temas do seu álbum Baleia, Baleia, Baleia
conjuntamente com a versão de Adultério na Igreja, de Daniel Catarino e a
versão dos Mão Morta, Cão de Morte, que foram introduzidas lá pelo meio. Foi um
bom espetáculo este a que assisti, e com o palco mais bem iluminado e melhor
decorado que presenciei até à data no Woodstock 69, e não só. No final da
atuação não houve direito a um desejado encore, algo que acho que era bem
merecido, tanto para o público como para a banda.
Resumindo:
estes Baleias proporcionaram uma excelente noite de sexta a quem se deslocou ao
seu concerto. Foi coisa boa, e por isso, aconselhável!
No comments:
Post a Comment